terça-feira, setembro 30, 2008

D'Indy fala das artes

Do Curso de Composição Musical, de Vincent d'Indy, traduzi estes trechos, encontrados bem no início do livro.

As únicas [artes] que nos interessam são aquelas ditas liberais, porque fazem verdadeiramente livre o artista que as cultiva. É esta liberdade absoluta que faz da carreira artística uma das mais altas e mais nobres carreiras, se o artista tem consciência de sua missão e sabe empregar dignamente sua liberdade.

Do ponto de vista objetivo, definiremos então a Arte: um meio de vida para a alma, um meio de nutrir a alma humana e fazê-la progredir, alimentando-a com o presente e com o porvir; pois a alma humana não se trata apenas de alma individual, mas também da alma coletiva das gerações chamadas a usufruir dos ensinamentos oferecidos pelas obras.

A Arte é, pois, um meio de nutrir a alma da humanidade, e de fazê-la viver e progredir pelas obras.

Do ponto de vista subjetivo, uma outra definição satisfatória de Arte foi dada por Tolstói: a arte é a atividade humana “pela qual uma pessoa pode, voluntariamente, e por meio de signos exteriores, comunicar aos outros as sensações e sentimentos que ela mesma provou”.

(...)

Com efeito, o princípio de toda arte livre é incontestavelmente a fé religiosa.

Sem a Fé, não há Arte.

É pela Fé, e, se assim se quiser, pela religiosidade, que a arte útil, respondendo às necessidades da vida do corpo, se transforma em arte liberal, meio de vida para a alma.

Chega então o momento de dizer que as cinco formas de arte citadas acima [Arquitetura, Escultura, Pintura, Literatura, Música] não vivem senão de uma única vida, e se penetram mutuamente, a tal ponto que é às vezes difícil estabelecer de modo certo seus limites respectivos. Com efeito, não se tratam de artes diferentes, mas de formas diversas da Arte, da Arte única.

A Arte é una; apenas a expressão, a manifestação diferem segundo o procedimento empregado pelo artista para se exprimir.

A razão desta unidade da Arte é de ordem sobrenatural. Acima de todas as necessidades humanas plana a aspiração à Divindade, o impulso da criatura em direção a seu Autor; e é na Arte, sob todas as suas formas, que a alma procura o meio de religar sua vida ao Ser que é seu princípio.