O polvo
Vai chovendo em Jundiaí e eu estava aqui tentando me lembrar do que eu ia escrever.
Era algo sobre haver muita filosofia, muita música, muita literatura, e que cada umas dessas coisas preenche muitas estantes, cada uma na verdade enche muitas bibliotecas. E não dá para saber de tudo. Especialmente quando alguém parece saber de tudo. Especialmente quando é alguém parecido com um polvo, um polvo que me aborda e traz em cada um dos oito braços uma coisa fantástica e interessantíssima que eu jamais teria alcançado sozinho, e que tive a falta de sorte de não conhecer antes, puxa vida. E o que dizer de uma conferência de polvos?
“Vive com tranqüilidade e cumpre a tua missão”, é a idéia que eu tive, um pouco como um consolo. E já tentando me livrar de um polvo que criticaria minha frase, diria estar muito na linha de um escritor dito ruim, embora venda muitos livros, só faltaria eu dizer para viver com tranqüilidade e cumprir a missão porque tu podes, e repete tu podes seiscentas vezes no espelho todas as manhãs.
Tento ser relevante para os meus amigos, embora não a qualquer preço. A relevância pode vir depois de quinze anos, mas terá vindo; ou pode vir imediatamente, tudo bem. Se o preço for coisa que não se pague, tenha-se paciência; é uma hora obscura em que nem para os amigos se é relevante. Acho que não estou nessa hora, é só um exemplo.
Todas as vezes em que eu descobrir em mim uma complexidade, uma erudição e uma relevância que pode ultrapassar certos limites menos rotineiros, procurarei manter a calma e a discrição, não achar que estou sendo grande coisa (porque realmente não seria) e não abraçar ninguém como um polvo, perguntando em lituano: como é que não conheces os meus mitos?
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