segunda-feira, junho 29, 2009

Copie isto aqui

Um bom texto do compositor americano Daniel Wolf; seu blog fica em renewablemusic.blogspot.com, e o post de que falo é este. Thanks to Daniel for allowing me to translate and publish his writing.

Pelo menos metade da minha formação de compositor vem da cópia de música. Não cópia no sentido de imitar a música dos outros, mas de copiar, nota a nota, composições dos outros; seja como trabalho encomendado por alguém, seja para meu próprio uso e estudo.

Tanto a tinta e caneta sobre papel como clicando num programa de edição de partituras, a cópia convida, e mesmo força, a que se preste atenção à música de forma analítica e íntima. Nada disto pode, digo pela minha experiência, ser substituído pela audição casual de gravações. A cópia também estimula a que se ouça imaginativamente, interpretando detalhes e passagens mais longas no tempo único proporcionado pela partitura escrita.

Grande parte do trabalho do copista é planejar o projeto, encontrando a maneira mais eficiente de transportar as notas do original para a cópia, imaginando a disposição mais elegante para as notas, os compassos, os sistemas, as páginas; tudo isto é trabalho analítico; traçar frases, seções, processos, semelhanças e diferenças, identificando táticas locais e estratégias globais tanto do original quanto da transcrição, além das inevitáveis e incalculáveis surpresas. Mesmo a decisão sobre onde pôr as viradas de página é um problema que convida a uma abordagem analítica e interpretativa!

É provavelmente desde que se escreve música que os compositores têm utilizado a cópia de música como treinamento. Histórias dos jovens Bach e Mozart copiando música são conhecidas de muitos músicos (pelo que me lembro, essas histórias com freqüência envolviam menções a velas e à deterioração da visão).

Por um lado, é bem possível que o uso da cópia, como da própria notação, diminuirá, dando lugar à transmissão aural e oral, a gravações e até mesmo a novas tecnologias ainda não imaginadas. Por outro, é difícil deixar de reconhecer quão útil tem sempre sido a cópia e quão eficiente e duradoura tecnologia tem sido a notação escrita para preservar e aprender a respeito da música.

Uma tecnologia eficiente, mas não uma tecnologia reprodutiva perfeita, no sentido de uma cópia digital perfeita de um arquivo de áudio: o risco e o charme (e, aos meus ouvidos, a vantagem) da cópia manual é a intervenção da interpretação no caminho da transmissão. De certo modo, trata-se simplesmente de mais um exemplo da Lei de Winslow: “se você quer uma cópia perfeita, aprenda com o ouvido; se quer garantir que mude com o tempo, escreva”. Entretanto, este ato interpretativo pode ser um primeiro passo movendo-se inevitavelmente em direção a uma nova composição.

Cada obra que copio (quando adolescente, copiei muito Webern e Machaut e Cage e Harrison e Purcell e Lully e transcrevi praticamente todas as notas de Harry Partch; mais tarde, sustentei-me parcialmente fazendo cópias para colegas; agora estou fazendo um trabalho interessante para a Material Press) é um convite para compor algo de novo; como se o traçado dos caminhos de cada uma dessas peças tornasse mais urgentes os caminhos que não foram percorridos.

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