quarta-feira, janeiro 10, 2007

Idade e outras coisas

Estou numa idade com a qual não se tem nenhuma condescendência do tipo que se tem com crianças, nem a consideração que se tem com os mais idosos ou mesmo mais experientes. Ninguém afaga alguém, nesta idade, por qualquer coisa que fez, só porque é novo, nem tem o respeito que se teria com alguém que viveu pelo menos um tempo razoável e acumulou experiência. O que se sabe, nesta idade, é visto como nada mais que obrigação; o que já se leu, nesta idade, é visto como nada mais que obrigação, e ainda se põe um facho de luz nas lacunas, naquilo que falta.

Existe um grande lado pelo qual isto é muito bom. Não se recebe nada gratuito de lugar nenhum. Quando alguém se aproxima e diz que gostou, provavelmente é sincero. A pessoa não está tentando ser mãe, tampouco tentando ser filha. Por isto há uma liberdade grande de quem não tem nada a perder.

Vi num lugar um rapaz ser criticado porque falou dos livros que influenciaram sua formação, e fez isso com pouca idade. Qual é o problema? É necessário viver agora, não quando se tiver mais de sessenta anos. É verdade que é difícil gostar do mundo jovem por si e em si, e que jovens foram responsáveis por grandes besteiras da humanidade. Mas quem só dá ouvidos aos anciãos está sendo bastante insensato. O rapaz que falou da formação dele talvez antes dos trinta, ou dos trinta e cinco, não sei, tem a sua formação. Também eu tenho a minha, agora, antes dos trinta. O que sou há quem não será aos setenta, e nunca serei o que eles são agora. Apego tanto à idéia de que cada pessoa é uma coisa que trago este pensamento em tudo que argumento. E sei que não exagero nem o uso para tudo.

As coisas importantes são todas importantes. Mas a partir de certo ponto transformam-se em jogos. Jogos de quem consegue saber mais, de quem consegue montar mais quebra-cabeças, de quem consegue interligar mais elementos muito distantes da vida e da existência, mostrando que só eles sabem ser íntimo o que a outros pareça desconexo. Jogos, mais um jogo entre tantos que os homens gostam de jogar. Os homens grandes se transformam em crianças, em garotos dos mais infames, aqueles tiranos que dominam as brincadeiras e fazem da vida do homem algo sério, muito, muito sério desde o começo, e que a necessidade de ser relevante se equipare e depois supere à satisfação da fome e da sede.

Eu próprio pensei muito para dizer estas coisas todas e encontrar todas estas explicações que para mim fazem sentido. Mas olho feliz para as coisas que faço agora, olho feliz para o que fiz antes, e olho com esperança para o que farei de daqui a poucos segundos em diante.