O rio
Dici che il fiume
trova la via al mare
Tudo tem a sua primeira vez de acontecer, todas as coisas que existem, menos as transcendentes, têm a sua primeira vez. E nesta vez é a primeira vez que uso uma epígrafe de língua estrangeira... e de língua que não entendo... e talvez seja até a primeira vez em que uso uma epígrafe.
O momento é de guerra. Mas não falo isso como um jornalista de caderno internacional. Falo como amigo do profeta, tendo-me o profeta falado isto e eu apenas no papel de quem repete a sua palavra.
E no momento de guerra, especialmente, é que se percebe uma pergunta: esperar até quando? Soube que depois da grande tragédia das torres gêmeas muitos casais decidiram ter filhos, exatamente porque se perguntaram: esperar o quê? Vai ser agora.
A guerra traz essa sensação. Estranhamente a guerra parece ser normal. Quando ela acontece, parece que a vida da humanidade como massa é exatamente isso, guerra, e bem nesses momentos é que cada pessoa sozinha começa a construir a sua própria paz, às vezes na companhia de outra, às vezes solitária, mesmo. O mais importante é tentar construir a própria paz.
Por isso não se espera que sumam os homens armados, os helicópteros, mísseis, ódio, para que se dê caminho para o filho que nasce, para o amor que surge, que pensa, que continua, para a música que se escreve.
Viver doloridamente é mais bonito, faz mais sentido. Não me diria contra alguns pequenos espaços de neutralidade, de uma espécie de paz desinfetada que às vezes é um alívio para aqueles momentos, mas viver doloridamente é mais bonito e faz mais sentido. “A dor da ternura excessiva”, diz Gibran.
Mesmo que não haja guerra lá fora, que se celebre a memória dos mil pequenos eus feridos dentro de si.
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