Um acorde
Nesta semana houve um dia em que me vesti de azul, verde e marrom. Convencionalmente não combina. Nem precisava do marrom, na verdade, o verde e o azul sozinhos não combinam. Mas é um tipo de dissonância visual que costumo usar. Geralmente são calças verdes e camiseta azul, lembrando as árvores verdes e o céu azul, uma dissonância da natureza. Fica um pouco parecido com um acorde de fá maior sobreposto a um de dó maior.
Bem, e “marrom” é uma palavra feia. Faz a cor parecer terrível. Tanto que não se usa esta palavra para falar da cor dos olhos. Ninguém diz ter olhos marrons. Num livro, talvez, fique bonito, dependendo do que estiver em volta.
O acorde que escrevi ali acima é estranho mesmo. Ele é muito mais estranho do que estranho, porque não saem dele raios luminosos. Os acordes estranhos bonitos costumam pôr um raio na cara da ouvinte, de modo que ela não vê nada; o observador é que a vê, os olhos fechados, o Sol no rosto. Ele, o acorde, pede alguma coisa depois. E é quase qualquer coisa. Não é uma dominante pedindo resolução na tônica; e, que se for resolvida noutra coisa, causa surpresa; não; é um acorde muito instável, sem resolução óbvia. Uma das possibilidades é remover algumas de suas notas, ou talvez apenas uma. Tirar o fá aliviaria bastante. Ou o mi. Ou o mi e o lá.
Tendo quase sempre a pensar em acordes de modo luminoso. Por isto é que este parece opaco. Ele serve bem a um uso percussivo, ponto de vista que só há relativamente pouco tempo adicionei ao meu raciocínio (talvez. Mas acho que já tinha pensado assim antes também).
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