Modelação de melodias originais por melodias gregorianas
Os primeiros próprios que escrevi para a Liturgia e efetivamente utilizei são os da Solenidade da Imaculada Conceição (8 de Dezembro). Eu os modelei parcialmente pelas suas respectivas melodias gregorianas do Graduale Romanum.
Por que não utilizar as próprias peças do Gradual? Por vários motivos:
1. Sendo eu a cantar estes próprios, é necessária música que eu possa cantar razoavelmente, e os próprios gregorianos ainda são um pouco difíceis para mim, com exceção as antífonas de comunhão.
2. Para usar a língua portuguesa. Muito latim é mal recebido pelos fiéis, e o aumento do seu uso deve ser gradual.
3. Como uma espécie de “bônus”, escrevo acompanhamento de órgão para as melodias que componho, enquanto as peças gregorianas, a rigor, não deveriam ser acompanhadas; quando se as canta com órgão, há sempre a vozinha purista na cabeça dizendo “não faça isso”.
Quanto à modelagem das minhas melodias pelo canto gregoriano, isto satisfaz um critério dos documentos da Igreja; cria uma relação do próprio material com uma fonte litúrgica; e também me proporciona um ponto de partida, sem que eu precise começar do zero (embora eu também goste de fazer isto).
Escrevi, então:
Introito para a Imaculada Conceição da Virgem Maria - depois de um esboço muito ruim de melodia própria, parti da melodia do Graduale (”Gaudens gaudebo”) e escrevi um introito não muito ruim, embora não me tenha satisfeito. Na Missa eu toquei um hino mariano na Entrada, sem Introito (há pouco adotei o costume de tocar um hino e o introito). Foi melhor assim: passada a Solenidade, reformei a melodia e fiquei mais feliz com o resultado. Assim como o gregoriano, minha melodia está no modo frígio.
Ofertório para a Imaculada Conceição - é o texto da Ave Maria, até “entre as mulheres”, mais a palavra “Alleluia”. Usei-a na Missa e fiquei satisfeito com ela. Também foi parcialmente modelada pela melodia do Gradual, no modo 8.
Comunhão para a Imaculada Conceição - também foi utilizada na Missa. No modo 8, hipomixolídio, assim como a antífona “Gloriosa dicta sunt” do Gradual; entretanto, não usei o texto do Gradual, e sim o do Missal (”Todas as nações cantam as vossas glórias, ó Maria”).
A Missa seguinte em que toquei foi a do Natal do Senhor, na Missa do Dia. Utilizei as três antífonas que escrevi:
Introito para o Natal do Senhor - o conhecido “Puer natus est nobis”, no sétimo modo, foi minha base para escrever a melodia para o texto em português, “Um menino nos é dado”, cujo texto é do profeta Isaías. Conservei a quinta inicial, característica dos cantos que anunciam um acontecimento importante como o nascimento do Senhor ou a sua Ascensão.
Ofertório para o Natal do Senhor - o Graduale prescreve “Tui sunt caeli”, no quarto modo. Utilizei o mesmo texto (”Vossos são os céus e também a terra, vós que criastes o globo e tudo o que ele contém”), mas escrevi uma melodia de modo livre, no modo eólio.
Comunhão para o Natal do Senhor - também foi escrita livremente, embora eu encontre, enquanto comparo, alguma coincidência casual com a melodia gregoriana. O texto é o mesmo: “Viderunt omnes” em latim, “Os confins da terra puderam ver a salvação do nosso Deus” em português. Aquela está no primeiro modo, enquanto na minha melodia usei hipomixolídio.
Dois dias depois, na Festa da Sagrada Família, sendo Sábado, utilizei os hinos comumente usados no Natal naquela igreja específica. Entretanto, após o hino da entrada, inseri a antífona do introito cantada numa variação do sexto tom. Na comunhão, omiti o hino comumente cantado, o que considero melhor já que cada fiel que comunga para de cantar, tornando desnecessária a insistência num hino de comunhão. Terminada a distribuição das hóstias, segui para um hino de ação de graças, “Noite feliz”, no caso, o que me pareceu melhor.
Comunhão para a Festa da Sagrada Família - seguindo o texto do Gradual (Lc 2, 48.49: “Meu filho que nos fizeste?”), escrevi livremente uma melodia no mesmo modo (primeiro) da antífona gregoriana.
Na Solenidade de Santa Maria, Mãe de Deus (1º de Janeiro), escrevi também as três antífonas. O introito de forma livre, musicando duas vezes a antífona, terminando no modo eólio. O ofertório, “Sois feliz, Virgem Maria”, foi modelado na antífona correspondente do gradual, “Felix namque es”, no mesmo modo (primeiro). O mesmo para a antífona da comunhão, “Exulta, filha de Sião”, no modo 4.
Nesta Solenidade escrevi uma melodia própria para o versículo do Alleluia, diferentemente das outras Missas, em que o cantei a um tom salmódico. Eu a baseei num responsório da Liturgia das Horas, “Descendit Iesus cum eis et venit Nazareth”, da Festa da Sagrada Família. Tanto o responsório como a melodia que escrevi estão no oitavo modo, adequando-se assim ao Alleluia no oitavo modo que venho usando desde o Natal. Quis escrever uma melodia mais florida para o Alleluia desta Missa, mas a multiplicação de melismas não estava me agradando. Se um dia eu puder cantá-los decentemente, quem sabe possa usá-los
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