domingo, agosto 31, 2008

Música barroca contemporânea

Preciso confessar que fico um pouco intrigado quando vejo partituras de compositores vivos, quase sempre jovens, que escrevem música barroca. Não que eu tenha a ingenuidade de achar que algum tipo de música não esteja agora mesmo sendo escrito em algum lugar do mundo. Ou melhor, até existe, mas não é música barroca.

“Intrigado” talvez não seja a melhor palavra, mas não encontro outra, o que é típico desta sensação de não saber o que falar – e é bem isso, não sei o que falar. A única conclusão a que cheguei é que se esses compositores se realizam escrevendo esta música e têm em sua vida um ambiente, um contexto e oportunidade de utilizar estas obras, o círculo está fechado.

Quer dizer que eu reprovaria alguém que escreve música barroca à toa e para a gaveta? De jeito nenhum, principalmente porque não sou ninguém para reprovar quem seja. Mas, sinceramente, preocupo-me um pouco com os compositores que querem escrever música barroca e eventualmente não encontrem espaço nenhum para o seu trabalho – especialmente se ele for bom.

Já vi partituras de música bem ruim, mas também vi coisas bem boas, algumas delas escritas por gente muito jovem. Outro dia vi uma suíte para viola da gamba composta por um menino de menos de 20 anos. Era natural e muito bem escrita.

É fato também que existe toda uma comunidade de música barroca (ou antiga em geral) muito presente nos sites de partituras descarregadas de graça. Nesses sites não demora muito a aparecerem obras de gente viva que escreve música barroca – embora apareçam também composições de gente viva que escreve em todo tipo de outras línguas musicais. Por isso é curioso ver um desses sites apresentar um grande número de autores barrocos, inclusive os menos conhecidos, ao lado de Rzewski.

Assim, mais uma vez, a música barroca se propaga, como se seu sucesso já não fosse grande (e merecido, eu entendo), não só por suas próprias qualidades mas também pela disponibilidade de um imenso repertório em domínio público. Enquanto isso, tantas coisas boas do século XX continuam na prisão, com acesso dificultado, por ainda estarem em validade direitos autorais que inibem o conhecimento da obras e também a sua execução mais livre.

Da minha parte, o direito autoral a que não renuncio é o crédito à autoria. Obviamente não quero ver meu trabalho atribuído a outra pessoa. No mais, não vejo motivos para grandes restrições.

*

De volta à música barroca atual, não cito nomes porque conheço poucos e não os guardo tão bem. Mas estão soltos pela internet, especialmente no Icking e no IMSLP.

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