terça-feira, março 27, 2007

O rio

Dici che il fiume
trova la via al mare


Tudo tem a sua primeira vez de acontecer, todas as coisas que existem, menos as transcendentes, têm a sua primeira vez. E nesta vez é a primeira vez que uso uma epígrafe de língua estrangeira... e de língua que não entendo... e talvez seja até a primeira vez em que uso uma epígrafe.

O momento é de guerra. Mas não falo isso como um jornalista de caderno internacional. Falo como amigo do profeta, tendo-me o profeta falado isto e eu apenas no papel de quem repete a sua palavra.

E no momento de guerra, especialmente, é que se percebe uma pergunta: esperar até quando? Soube que depois da grande tragédia das torres gêmeas muitos casais decidiram ter filhos, exatamente porque se perguntaram: esperar o quê? Vai ser agora.

A guerra traz essa sensação. Estranhamente a guerra parece ser normal. Quando ela acontece, parece que a vida da humanidade como massa é exatamente isso, guerra, e bem nesses momentos é que cada pessoa sozinha começa a construir a sua própria paz, às vezes na companhia de outra, às vezes solitária, mesmo. O mais importante é tentar construir a própria paz.

Por isso não se espera que sumam os homens armados, os helicópteros, mísseis, ódio, para que se dê caminho para o filho que nasce, para o amor que surge, que pensa, que continua, para a música que se escreve.

Viver doloridamente é mais bonito, faz mais sentido. Não me diria contra alguns pequenos espaços de neutralidade, de uma espécie de paz desinfetada que às vezes é um alívio para aqueles momentos, mas viver doloridamente é mais bonito e faz mais sentido. “A dor da ternura excessiva”, diz Gibran.

Mesmo que não haja guerra lá fora, que se celebre a memória dos mil pequenos eus feridos dentro de si.

terça-feira, março 20, 2007

Se ou por que não escrevo

Queria aproveitar para pedir desculpas por não estar escrevendo nada relevante. Não que o fizesse, antes. Mas agora menos ainda. Às vezes vêm desconhecidos em busca de conhecimento importante, e provavelmente não encontram. Se encontrassem, nem fariam contato, em geral.

Ocasionalmente, ou até com mais freqüência que o imaginável, penso em coisas relevantes. Mas meus pensamentos, pelo menos por enquanto, não são buscáveis pelo google. Basta tentar e isso se verifica com facilidade.

Há mais tempo eu punha aqui as plantinhas mais frondosas que me nascessem, mas com o tempo isso perdeu sentido e agora apenas rumino, aceito admitir que apenas rumino. Posts grandes já são raros, os pequenos começam a proliferar e grande parte dizendo que o dia é bonito ou alguma coisa criptografada – pelo menos isto não mudou, né.

Não que eu não goste do silêncio que se segue invariavelmente tanto às coisas relevantes como às irrelevantes. Eu mesmo é que fechei a caixa de comentários, depois de um engraçadinho, comentarista profissional de blogs que, num acesso de incompetência, achou que ia conseguir chamar a atenção comentando no meu. Justo no meu.

A época dos blogs não passou, ao contrário do que eu disse outro dia. Não existe época de blogs. Houve a época em que eu escrevia mais no blog, isso sim, mas blogs continuam por aí sendo escritos, muito ativos, entre eles alguns são bons, na minha opinião. O que passou é a época em que eu me dispunha a escrever tudo e publicar aqui tudo. Deu-me alguma coisa que não me permite mais chegar aqui e colocar tudo que penso, tudo que escrevo. Sabem, eu continuo escrevendo. Mas não publico mais aqui. Um pequeno número de pessoas já sabe disso, e até mesmo continuou a me ler sem ser aqui porque mandei por e-mail, sabendo que gostaria de ler. Mas eu não publico mais. Não tenho mais banquinha na feira.

E no entanto não fecho o espaço, porque naturalmente às vezes dá vontade de contar alguma coisa, continuar por aí, não deixar de andar ao ar mais livre e perigoso. Sou muito tradicional, e fechar isto aqui vai contra os meus princípios; quanto mais o tempo passar, menos tenderei a fechar, tendo já feito quatro anos em Dezembro.

Uma atitude possível é aquela que sempre evitei, que era escrever sobre blogs. Poucas vezes me sinto tão inútil quanto quando escrevo, no blog, sobre blogs. E estou aqui de novo numa das exceções que abro a cada uns três meses, com mais freqüência do que se poderia supor. Penso em abrir um parêntese para dizer que alguns escrevem bem sobre blogs, tanto quanto há blogs bons, mas não sei se precisa. E este post é mais sobre mim, mesmo.

Fica faltando um parágrafo final, ainda que minha intenção com este post seja uma grande não-intenção, um despropósito, embora ao mesmo tempo com um propósito bem definido de começar a tentar explicar por que este blog hoje é completamente diferente do que era em 2003, em 2004. Então não há parágrafo final: nem para o texto nem para o blog, já que, embora possa soar, este não seja um texto de despedida – mais ou menos típico de blogs, ainda quando eles se despeçam por uma semana.

Dia

Ontem foi o que eu chamo de dia bonito. Quem me conheça sabe como foi, então.

sábado, março 10, 2007

Avistamentos

Sonhos com as criaturas sempre imperfeitas de rostos perfeitos em lugares perfeitos. O cansaço de pensar uma semana inteira na mesma coisa, quase duas semanas na mesma coisa, na mesma alma imperfeita mais perfeita que se há visto.

sexta-feira, março 02, 2007

Ah

Um mês sem escrever é muito. Por isto estou aqui.