sábado, abril 28, 2007

Os dois rótulos

Muitas pessoas gostam opinar contra a aplicação de rótulos à música. Muitos particularmente se mostram contrários à divisão entre música erudita e popular, dizendo que atrapalha, ou que não faz sentido.

Admito que não penso que atrapalhe, e considero que faça, sim, sentido.

É uma classificação bem útil que explicita certas intenções. Como qualquer classificação, está, sim, sujeita a situações em que é difícil saber, obviamente eu admito que há músicas difíceis de julgar como eruditas ou populares.

Não quero nem tentar descrever as características de uma e de outra. A erudita costuma ser mais escrita e fixa, a popular menos escrita e com um tanto de improvisação. Mas tudo depende. Por favor: não é a existência do baixo cifrado, numa época particular, que joga por água abaixo esta quase-tentativa de delimitar as coisas. Nem as bandas de jazz ou rock que escrevem tudo.

Tem também a questão de a música erudita ser de concerto, e a popular, se de concerto, destinada a um tipo de concerto bem diferente.

Como disse, não quero nem tentar explicar. Mas que os dois mundos existem, existem. E isto não é nenhum problema para nenhum deles, nem para nenhum outro além deles. Quem se sente bem jogando fora o rótulo, que o ignore; mas para mim é imprescindível pensar neles.

domingo, abril 15, 2007

Você anda perdido

Você anda perdido, pelas estradas, procurando alguém, daquele modo: sei o que procurava quando o tenha acabado de encontrar. As gerações passam e continuamos no exílio. Será que antes do seu fim vem algo bom?

Você espera, vivendo a semana sempre cíclica, todos os humores em sete dias, mil mortes e renascimentos que o ferem tanto que não parece mais haver calma mesmo no silêncio, mesmo no sossego, mesmo quando o deixam só.

Quando nada mais parece ferir é porque muito já se feriu, e quando é assim tudo fere, mesmo sem parecer.

Espere seu último renascimento. Será o fim do desterro. E então terá paz.

sexta-feira, abril 13, 2007

Idéias e chocolates

Bem na Quarta-feira Deus houve por bem mudar o tempo, que vinha quente e insuportável, para algo muito melhor, mais fresco e menos violentamente claro. Mudou exatamente a tempo para a sua Semana Santa.

Comigo este é o centro do ano, o seu começo, o seu fim, pra onde converge tudo. Espero por todo o ano este momento. Por um breve instante tomei cuidado para não o transformar nas vãs esperanças pagãs pré-natalinas. O mundo ateu não roubou a Páscoa do mesmo jeito que roubou o Natal; roubou-a, mas de outro modo. Festas podem ser roubadas, mas não tiradas.

Estou amargo com o mundo, chamando-o de ateu? Não; ele mesmo é que é amargo por querer ser ateu.

Estou amargo com o mundo, tentando me localizar fora dele? Não; estando nele estou apontando onde é que ele erra e em que é diferente de mim e, mais do que de mim, de tantos que somos.

Mas não nos aflijamos. O chocolate que o mundo oferece é isto, chocolate, e agradável para comer. As idéias é que são venenosas, e guardemo-nos delas.

Jejum de música

Um pequeno e bem conduzido jejum de música pode fazer muito bem. Mas é necessário tomar muito cuidado com o que se pretende pôr no lugar vazio. Não se pode colocar rotina burocrática, trabalho desagradável, insensibilidade, situações coletivas forçadas.