segunda-feira, janeiro 29, 2007

LIX

Ficar sem postar aqui parece que reduz o número de visitas, que, além de não serem muitas, vêm em grande parte de buscas curiosas feitas no Google. Este caderno azul continuo a considerá-lo um tanto solitário, sem tom de reclamação. Talvez me falte o impulso ou a iniciativa de escrever todos os dias, mas não tenho assunto para tanto. Até podia ter, mas não consigo simplesmente escrever qualquer coisa aqui, e ainda não me habituei a postar só links, por exemplo. Então não posto links nem com texto junto. Enfim.

Um assunto que eu tinha um dia desses era “poetas que escrevem sobre política”, ou “poetas que escrevem poemas políticos”. A firmeza do que eu pensava permaneceu, mas o ímpeto de começar algo falando nisso se esvaiu pouco a pouco, conforme se passaram os dias da semana. Quem me conhece tem ao menos uma vaga idéia do que penso sobre isso, não seria nenhuma grande surpresa. Mas o momento voltará, e falarei algo a esse respeito.

A Internet propicia contato, mesmo que unilateral (do tipo: eu só leio, mas sem ter resposta) com pessoas que sabem muito, e isso é bom. Por outro lado faz as coisas caírem numa certa chatice: qualquer departamento que se procure tem já uma comissão de príncipes. Daqueles a quem um anjo louro, no nascimento, disse: “vai lá, ser relevante na vida”. Assim andei relativamente apático por uns dias, na certeza de que nenhum movimento meu acrescenta coisa nenhuma ao Universo. Isto serviu para descansar, para o relaxamento que comigo é quase impossível. Será que serviu também para deprimir? Não comento.

Mas eis: “tu nada acrescentas; começa desse zero o teu caminhar e preocupa-te com que chegues, tu, ao destino”. Acho que é isso. Nem ia escrever aqui essa frase como que proferida por oráculo, mas aí seria uma adulteração destas mundanas escrituras azuis.

segunda-feira, janeiro 22, 2007

Uma filosofia

Uma filosofia, mas mais que isso, filosofia: levo tudo a sério. Este pensar circunda todo o resto. O princípio é simples e não exige grandes explicações. Dá dor de cabeça, mas no fim dá certo.

quinta-feira, janeiro 18, 2007

Veni, II

Minha peça mais recente se chama Veni, e penso em três coisas quanto a este nome.

Primeiro, do Cântico dos Cânticos: “Veni de Libano, sponsa, veni de Libano, ingredere” (vem comigo do Líbano, ó esposa, vem comigo do Líbano!) [Ct 4, 8]

Depois, do Apocalipse de São João: “Et Spiritus et sponsa dicunt: “Veni!”. Et, qui audit, dicat: “Veni!”. Et, qui sitit, veniat; qui vult, accipiat aquam vitae gratis” (O Espírito e a Esposa dizem: Vem! Possa aquele que ouve dizer também: Vem! Aquele que tem sede, venha! E que o homem de boa vontade receba, gratuitamente, da água da vida!) [Ap 22, 17)

E da Seqüência de Pentecostes: “Veni Sancte Spiritus” (vem, Espírito Santo).

Previsível

Falta um pouco de atenção e amor ao previsível.

terça-feira, janeiro 16, 2007

LV - sonho da noite passada

Desta vez eram gatos, e um ou dois deles eram menores que o meu dedo indicador.

Noites atrás sonhei também com uma tigresa.

Felinos andam fazendo aparições noturnas.

sábado, janeiro 13, 2007

Morte da Música Clássica

Leio em alguns blogs diferentes modos de entender a resposta à questão “a música clássica está morrendo?”. Uma variante da pergunta é “a música clássica está morta?”.

Há muito o que dizer antes mesmo de começar a responder. Primeiro, que essas perguntas pressupõem aquela noção mais popular de “música clássica” como sendo toda a música erudita, de concerto, enfim, essas coisas. Assim, Vivaldi é clássico, Bach é clássico, Chopin. Não é a noção mais exata de que música clássica é aquela do período em torno de 1750 a 1800, talvez um pouco antes, o que põe mais especificamente Haydn, Mozart e Beethoven como realmente “clássicos”.

Superada essa questão, a expressão “música clássica” também é usada em outro sentido abrangente, diferente daquele primeiro: opõe-se “música clássica” à “música moderna” ou “contemporânea”. Música clássica é aquela de antes do século XX, em geral – assim supõe esta noção. E é neste sentido que muitos falam da música clássica como morta ou prestes a morrer.

Não sou indicado para responder a uma questão dessas. Recuso-me a dar como mortas coisas que à maioria das pessoas parecem superadas; ainda que fosse o único, e sei que não sou. Nunca ouvirão de mim que o latim é língua morta. Nunca ouvirão de mim que a música clássica, seja qual for, é morta. Enquanto houver registros das coisas, estão tecnicamente vivas para mim.

Então, alguém poderia dizer, trata-se do conceito de “vida”. Sim, é isso mesmo. O crítico que li prevendo a morte da música clássica escreve que ela continuará existindo, sendo tocada e estudada, mas não do jeito que é hoje. Ah, sim; para mim esse é um conceito estranho de morte. Para mim morte é morte, ostracismo, desprezo; não a morte humana, mas a morte das coisas, desta arte, daquela idéia, daquele pensamento.

O tal crítico prevê que não existirá mais o formato de concerto como é hoje, por exemplo (sim, acho que é isso), o que não me surpreende nem um pouco porque esse formato é ligeiramente inadequado, para dizer o mínimo. O concerto do século XVIII não era como o do século XX, e é de se supor que no futuro não será mais como é hoje.

Aí tudo se explica. O anúncio da morte da música clássica é mais uma manchete bombástica para comentários um pouco mais sutis sobre a mudança das coisas que se costuma dever esperar.

Que epifânico e inovador formato eu proporia para substituir o do concerto? Nenhum. Quando digo dele ser inadequado é por questões mais simples, como ter que ficar sentado (lamentavelmente não deitado), virado para a frente, num comportamento inteiramente estudado e atuado. Seria errado dizer que não gosto de concertos, mas não sou tão chato a ponto de creditar isso ao seu formato; antes, é claro, ao bom trabalho do músico. Concertos são bons; mas muita gente hoje já percebeu que ele precisa de pequenas adições que até já vinham sendo feitas antes, como iluminações interessantes. Para mim foi outro mundo tocar com uma lâmpada vermelha sobre mim, e ainda outro planeta com uma lâmpada azul. Ares novos para o músico e para o público. A música popular já sabe disso há tempos, e a erudita em grande parte também já aprendeu, sobretudo a contemporânea.

Proporia então luzes azuis para um coro gregoriano? Não sei, na verdade ainda nem sei se faz sentido um concerto de um coro gregoriano, já que a função desta música é servir à Liturgia católica (não que eu não iria ao concerto). Mas, por favor, não estou propondo lâmpada azul, lâmpada vermelha; mas sutilezas de iluminação, o que pode incluir cores mas também pode ser apenas jogos com as luzes comuns. Não entendo de iluminação, procuro apenas pensar idéias levando em conta, inclusive, coisas que já vi.

Para resumir e voltar ao chão, a minha resposta à pergunta seria não, a música clássica não está nem estará morta enquanto houver quem a cultive. Não interessa se tal classe social não ouve, não interessa se tal classe social ouve, nada interessa; interessa que haja um grupo se dedicando a ela; neste caso não está morta. Sua relevância para o mundo contemporâneo, que alguns poderiam colocar em questão, é que pode de fato ser discutida, ainda que eu não saiba se estou mesmo interessado nisso – especialmente porque há tanta bobagem sendo relevante para o mundo contemporâneo.

sexta-feira, janeiro 12, 2007

Mãos

Hoje quase ninguém sai com a mão na foto. Porque a mão está acionando a câmera, já que hoje se fotografa muito a si mesmo. Aí fica estranho, tão perto, aparecer a outra mão.

quinta-feira, janeiro 11, 2007

Veni

Como escrever uma composição cujo início tenha sido escrito há anos? Fiz isso algumas vezes até hoje, a abordagem nem sempre foi a mesma e isto depende, é claro, das idéias em si.

Falo nisso porque a minha peça mais recente se enquadra nesse caso. Chama-se Veni, e tem partes escritas em diferentes anos. Foi concluída agora bem no início de 2007, teve trechos escritos no fim de 2006 mas sua origem é um pouco mais distante. A idéia principal, os primeiros compassos, foram escritos em algo como 1993, e uma continuação dela em 1999 ou 2000. Alguém talvez dissesse que nem é tanto tempo assim, se hoje eu tivesse oitenta anos. Mas como tenho vinte e seis, faz toda diferença. A idéia foi esboçada quando eu tinha treze anos, continuada quando tinha dezenove e retomada há algumas semanas.

Não me preocupo em continuar desenvolvendo a peça no mesmo estilo em que foi começada, ou melhor, não me preocupo demais com isso. Neste caso permaneci no mesmo universo harmônico, sim, porque querer concluir esta peça nunca saiu da minha cabeça, e minha intenção sempre foi que ela se centrasse no modo lídio, e usando somente as teclas brancas do piano. Alguém poderia ouvir esta peça como constante de uma espécie de epígrafe, escrita em 1993, uma segunda epígrafe se seguindo sem interrupção, de seis ou sete anos mais tarde, e depois a parte mais longa da composição. As partes não são assim tão destacadas, mas há uma certa diferença. A parte inicial é mais movimentada, como se fosse uma parte temática. O que se segue são meditações, outros temas estilizados, referências ao tema adolescente. Poderia pensar também num filme com cenas de uma época, depois cenas de outra época, e finalmente estabelecendo-se em cenas de uma terceira época. Filme, ou mesmo conto.

Se não escrevi esta peça antes é porque ela não estava pronta para ser composta, ainda que a idéia principal estivesse pronta. Tinha que ser agora; tinha que ser nesses três momentos. A mesma coisa aconteceu com a quarta das Meditações, que escrevi em 1999. Sua idéia principal, de quatro compassos, era de oito anos antes, quando não tinha idéia nenhuma do que fazer com aquilo. Precisei mudar (e bastante) de idade, conhecer e ouvir diversas coisas até que tivesse realmente algo a expressar com aquilo. E naquele caso é uma peça mais homogênea, diferente de Veni.

A propósito, o nome Veni, que é “vem”, se refere à ânsia, ao desejo, um tanto intenso no início, tornado mais sutil, depois, ainda que sempre presente. Em vez de apresentar um desejo crescente ou uma ânsia finalmente resolvida, procurei expressá-la de modo mais estático, sem muito drama, embora ela possa oscilar, surgindo em vagas do mesmo modo que desaparece para dar lugar à calma.

*

No mais Veni é também uma alegria, já que em 2006 não escrevi, para minha grande frustração, nenhuma peça para piano, coisa que não acontecia desde que eu não compunha. Ou melhor, acho que em 1996 também não escrevi nada. No ano passado não soube aproveitar os momentos de folga que tive, sempre incomodado com o prognóstico de ter que parar dali a duas horas, por exemplo. Neste ano gostaria de aprender a fazer diferente e poder voltar a escrever mais peças. O ponto positivo de 2006, porém, foi que passei a estudar um tanto da música litúrgica, e escrevi um tanto de peças nesse sentido, já que isto não requer que me sente ao piano para divagações intermináveis. Talvez fale nisto uma outra hora.

quarta-feira, janeiro 10, 2007

Idade e outras coisas

Estou numa idade com a qual não se tem nenhuma condescendência do tipo que se tem com crianças, nem a consideração que se tem com os mais idosos ou mesmo mais experientes. Ninguém afaga alguém, nesta idade, por qualquer coisa que fez, só porque é novo, nem tem o respeito que se teria com alguém que viveu pelo menos um tempo razoável e acumulou experiência. O que se sabe, nesta idade, é visto como nada mais que obrigação; o que já se leu, nesta idade, é visto como nada mais que obrigação, e ainda se põe um facho de luz nas lacunas, naquilo que falta.

Existe um grande lado pelo qual isto é muito bom. Não se recebe nada gratuito de lugar nenhum. Quando alguém se aproxima e diz que gostou, provavelmente é sincero. A pessoa não está tentando ser mãe, tampouco tentando ser filha. Por isto há uma liberdade grande de quem não tem nada a perder.

Vi num lugar um rapaz ser criticado porque falou dos livros que influenciaram sua formação, e fez isso com pouca idade. Qual é o problema? É necessário viver agora, não quando se tiver mais de sessenta anos. É verdade que é difícil gostar do mundo jovem por si e em si, e que jovens foram responsáveis por grandes besteiras da humanidade. Mas quem só dá ouvidos aos anciãos está sendo bastante insensato. O rapaz que falou da formação dele talvez antes dos trinta, ou dos trinta e cinco, não sei, tem a sua formação. Também eu tenho a minha, agora, antes dos trinta. O que sou há quem não será aos setenta, e nunca serei o que eles são agora. Apego tanto à idéia de que cada pessoa é uma coisa que trago este pensamento em tudo que argumento. E sei que não exagero nem o uso para tudo.

As coisas importantes são todas importantes. Mas a partir de certo ponto transformam-se em jogos. Jogos de quem consegue saber mais, de quem consegue montar mais quebra-cabeças, de quem consegue interligar mais elementos muito distantes da vida e da existência, mostrando que só eles sabem ser íntimo o que a outros pareça desconexo. Jogos, mais um jogo entre tantos que os homens gostam de jogar. Os homens grandes se transformam em crianças, em garotos dos mais infames, aqueles tiranos que dominam as brincadeiras e fazem da vida do homem algo sério, muito, muito sério desde o começo, e que a necessidade de ser relevante se equipare e depois supere à satisfação da fome e da sede.

Eu próprio pensei muito para dizer estas coisas todas e encontrar todas estas explicações que para mim fazem sentido. Mas olho feliz para as coisas que faço agora, olho feliz para o que fiz antes, e olho com esperança para o que farei de daqui a poucos segundos em diante.

segunda-feira, janeiro 08, 2007

FF - pp

Reparava em alguns filmes, mesmo que assista a tão poucos, em certas transições, ou melhor, cortes de uma cena para outra, que a primeira fosse muito barulhenta e a segunda silenciosa. Quem faz o filme não liga, ou melhor, bem provavelmente faça isso de propósito: uma cena barulhenta, outra muito quieta.

Não me lembro se descobri sozinho ou se li antes de perceber, mas as composições de Giya Kancheli fazem a mesma coisa. Quer dizer, sempre percebi nelas os cortes abruptos, mas depois é que me ocorreu ligar isso ao cinema; aí é que não sei se entendi sozinho ou li antes. Mas não importa; esta é uma nova influência para a caixinha de influências e mil janelas abertas para entender melhor Kancheli.

Quer dizer que preciso do cinema para entendê-lo? Não, não se trata disso. Hm, talvez se trate, sim. Mas isto não é importante. Ao ouvir música, mesmo que pense muito em música, não terei recorrido a mil tipos de pensamentos não musicais? Situações, paisagens, cores, palavras ou o que mais apareça. Cinema é mais uma delas. Aliás, cinema sempre foi uma delas, e uma das principais, e sem que isso implique em pensar em trilha sonora musical necessariamente.

Quero dizer, esse exemplo mesmo da cena barulhenta e da cena silenciosa não é obrigatoriamente musical. A cena barulhenta pode ser de tiros na guerra, ou de multidão, ou outras máquinas funcionando.

Falei que se tornou uma nova influência porque eu não fazia isso antes, pelo menos não conscientemente; contrastes dinâmicos na minha música nunca aconteceram como acontecem em Kancheli ou nesses filmes. Mas agora sim; hoje mesmo escrevi alguns compassos em que me alegrei todo por usar esse recurso. Considero-o muito bom porque evita a obrigação à transição lógica demais, à pacificação gradual de uma textura impetuosa, ou ao enfurecimento gradual de um momento meditativo. Pelo menos até aqui, entretanto, é tudo moderado; Kancheli não é uma gangorra emocional, te jogando à tristeza três segundos depois de te animar, para depois te trazer de novo ao Éden e então te tirar a esperança. Kancheli não é assim (pelo menos pelo que tenho percebido), e tampouco pretendo ser.

Como referi ali acima, assisto a bem poucos filmes. Quando tinha uns dezessete anos cheguei a ver uma ou outra coisa das que chamam de cult, gostei de algumas delas. Nos anos seguintes devo ter visto uma coisa por ano, ou a cada seis meses, mas não me lembro tão bem delas, embora certas características tenham ficado um pouco na memória. Uma delas é esse contraste de que estou falando. Acho interessante que, mesmo com uma cultura fílmica muito pobre, acabe tendo sido influenciado um pouco por certas atmosferas que nem sempre encontro na música de concerto, mas na de filmes sim. É desnecessário dizer que não sou o único, ainda que esse tipo de aprendizado influencie cada um de uma maneira diferente, e tenho também as minhas influências, muito fortes, de certos tipos de música de concerto e também litúrgica (de que já falei aqui, e talvez volte a falar).

XLIX

Será impressão minha ou nunca escrevo textos de opinião aqui? Opiniões até dou, mas nenhuma muito contundente. Bom, na verdade até tenho opiniões sobre as coisas, inclusive sobre algumas, só algumas, das coisas atuais, mas acho isso muito aborrecido e realmente prefiro não comentar, deixo de lado também nas conversas ao vivo. Sinto-me um inútil falando desses assuntos – e curiosamente não acho inúteis os que escrevem sobre isso, especialmente os que o fazem bem.

Não importa quanto avessa à opinião uma pessoa seja, nem quanto sonhadora ela seja; para o seu próprio mundo de sonhos é preciso que ela tenha opiniões, preferências, pelo menos direções nas quais sonhar e, bem viajar. Este verbo é um pouco vulgar mas faz muito sentido aqui.

Por isso mesmo também tenho meus modos de pensar que acabam, sim excluindo coisas. Como alguém poderá escolher tudo? Somente a grande Santa Teresa de Lisieux escolheu tudo; mas ela podia, e era um caso diferente, também. Para escolher tudo ela deixou muito de lado. Ah, não tem nada a ver, é que acabei me lembrando dela.

Uns podem acabar sendo conhecidos pelos nãos que dizem, mas os nãos são necessários para que se tenha os objetos do sim definidos, delimitados, ainda que imprecisamente. Levar tudo produziria uma mistura de preto indistinto.

*

O título do post se refere ao fato de que este é o 49º post publicado aqui desde que voltei ao blog, incluindo os antigos publicados com a data original. Pode ser que eu poste outros antes, e este não seja mais o 49º. A propósito, faz tempo que não publico nenhum antigo aqui; avisarei quando o fizer.

sábado, janeiro 06, 2007

Encorajamento

Não é bem da crítica especializada que quero falar, mas é, sim, de alguma crítica. A crítica mais imediata, feita por amigos e pessoas próximas.

Antes mesmo de começar lembro-me da tendência que tenho, devo reconhecer, a ser especialmente doce ao comentar algo feito por um amigo. Mas tudo bem, às vezes isso acontece quando vou falar de algo feito por alguém que me desconhece, e, por alguma razão, vejo-me sendo menos duro.

Julgo muito importante o lado mais humano de fazer algo relacionado à arte. Mais humano, mais artístico e menos profissional no sentido de excelência milimétrica e atlética. Obviamente isto não serve para desculpar coisas ruins só porque, ou especialmente se, foram feitas para colaborar com caridade, filantropia. Filantropia não pode ser desculpa para se elogiar um livro ruim.

Mas penso nas coisas mais humanas, no incentivo, no encorajamento que se deve sempre dar a quem faz ou tenta fazer alguma coisa, seja escrever, tocar, pintar, cantar, atuar. Muitos ensinarão que um crítico terrível é um excelente professor; não quero desdizer isto; mas quem faz alguma coisa precisa de incentivo e de encorajamento, de alguma forma. É verdade que há alguns mais solitários, que fazem as coisas apenas por si e para si; que não se preocupam em nada com a aprovação externa, no que são muito sábios. Mas toda vez que vier alguém mostrando o que fez, que se tenha sempre muita caridade, se for para apontar os senões, e que se seja generoso no elogio da intenção e na análise relativa, conforme a circunstância, conforme a limitação.

sexta-feira, janeiro 05, 2007

Festa interior

Acabo de dar um passeio por alguns blogs, e constatei de novo que vários têm falado na idade dos blogs mais antigos. Pois é.

Mas resolvi voltar aos velhos tempos e fiz uma pequena festa interior para celebrar um novo link para este blog. Sempre interior e recolhida, claro.

Festa interior, e não festa no interior. Aqui espalhafato só entra de vez em quando.

Conversa velha

Antes sem espaços, hoje os arquivos de blogs pulam, de Março passam para Dezembro, de Abril para Setembro, de um ano para o outro. Está bom, há tanto que esses silêncios escondem.

Sabe, acho que não diminuiu o que falar. Diminuiu a vontade de falar. Aumentou a vontade de escolher para quem, vidas se entrelaçaram com esta espécie de jornais ou diários que ficam na tela e se abrem a qualquer hora, desejáveis vieram, indesejáveis vieram, pensou-se muito, passou-se a descartar coisas, às vezes até mesmo a idéia desta espécie de jornais ou diários.

Para não passar em branco às vezes se usa, então, o escrever sobre escrever, a que eu me recusava quase religiosamente, mas que agora faço para não passar em branco de novo. Que coisa mais estranha, nunca havia pensado se a idéia ia passar ou ia ficar; mas dá a impressão de que passou, ou então eu é que passei – passei dela, porque ainda existo para tantas outras coisas.