segunda-feira, novembro 26, 2007

A nona menor - II



Quando pensei em falar a respeito da nona menor lembrei-me do santista Almeida Prado e do alfabeto de acordes das suas Cartas Celestes. Conheci esses acordes ao ver sua tese de doutorado na biblioteca do IA da Unicamp. Seu nome é longo (Cartas Celestes: uma uranografia sonora geradora de novos processos composicionais).

Esse alfabeto de acordes é usado nas Cartas Celestes que vão de I a VI. Vários deles usam a nona menor. Escolhi quatro em que a presença deste intervalo é mais evidente. O primeiro é o acorde alfa: duas quintas em distância de nona menor:


Acorde alfa das Cartas Celestes de Almeida Prado.

E estes são os outros três:


Acordes épsilon, sigma e chi das Cartas Celestes de Almeida Prado.

Do mesmo compositor vem também uma idéia bastante interessante, que é a de oitavas sujas, como ele chama. Trata-se de usar uma melodia em oitavas em que algumas das oitavas não são oitavas - elas são nonas menores ou sétimas maiores.

Usei este recurso numa peça para piano chamada Turmalina, de 2005. Porém, não me lembro se ao fazê-lo eu já sabia do seu uso por Almeida Prado. Sei que li a esse respeito neste ano em que escrevo (2007), mas não é impossível que eu já soubesse mas me tenha esquecido completamente.

Isto realmente não é de muita importância, já que o verdadeiramente relevante é o próprio recurso e o seu resultado, que a mim me soa muito interessante. Pessoalmente eu não o chamaria de oitavas sujas, talvez por achar o adjetivo muito negativo... Mas não sei como o chamaria.

Almeida Prado, ao explicar este tipo de harmonização (ou até mesmo orquestração, eu arriscaria dizer) menciona a música árabe, com melodias em uníssono desprovido de uma maior precisão ocidental, e também cantos populares brasileiros, especialmente religiosos, muitas vezes acompanhados por instrumentos de sopro, em que também se ouve esse uníssono mais rústico.

    A fonte desses comentários de Almeida Prado é alguma (ou várias) de suas entrevistas concedidas e pesquisadores de sua obra. Possivelmente eu as poste com mais precisão num futuro terceiro texto sobre a nona menor.


Ali acima eu me referi a essa idéia como "orquestração", acrescentando que "arriscaria" usar esse nome. Faz sentido para mim porque, pensando nos acordes como timbres, montá-los é uma espécie de orquestração - e digo que estou pensando no piano, onde tudo continua sendo "orquestração" para mim.

    Neste post minha idéia é a de falar sobre a nona menor de um ponto de vista mais relacionado ao timbre, de fato. No primeiro eu me estendi, muito mais do que queria, em mostrar que ela aparece em Schoenberg. Nada disto é novidade - nem que ela está em Schoenberg, nem que ela é um timbre ou parte de timbres, ou parte de acordes. Mas o que ela tem de especial é que, dentro do temperamento de doze notas, ela talvez seja o intervalo "menos familiar". No mais, demora muito para aparecer a nona menor na série harmônica.

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