sexta-feira, dezembro 28, 2007

LXXXI

Parabéns para o blog. Fez cinco anos há poucos dias.

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Quando me inscrevi num programa de pen-pal, dez anos atrás, recebi um folheto com algumas sugestões para o momento de escrever. Uma delas era don't write when you're miserable. Não escreva quando estiver mal. Ou triste. Ou algo desse gênero. É um conselho bem sensato. Mas talvez valha só para quem vai escrever, no mínimo, as primeiras cartas para o seu pen-pal. Quando já tiver com ele ou ela intimidade, pode escrever se estiver miserable. E, se não forem cartas, estar triste pode ser um ótimo momento para escrever.

Também pode ser péssimo. Tanta tristeza que mal se consegue articular uma frase ou mesmo um substantivo com adjetivo.

Escrevi numerosas miserable words para a minha pen-pal grega, ela também me escreveu muitas. Claro que o folheto do serviço tinha que ser breve, limitar-se ao essencial, mas, se quisessem ser mais detalhados, poderiam dizer que, conforme se desenvolva a relação entre os pen-pals, é importante saber valorizar os momentos miserable, ou blue, e todos os outros adjetivos que encontrarem nessa linha.

O mundo está por aí cheio de jovens alegres, parecidos até mesmo com os personagens de um livro de inglês para adolescentes que conheci; todos um pouco eufóricos, fazendo sempre muitos esportes, não precisando dos pais e sabendo o nome das peças de roupa sem precisar perguntar.

Está também cheio de jovens menos alegres que não entrariam em nenhum livro de ensinar idiomas.

Às vezes esses dois tipos são a mesma pessoa.

(...)

Update. Mudei o nome deste post de LXXX para LXXXI porque acrescentei postumamente um post para Novembro de 2007. Assim aquele mês não fica vazio. Há outros meses vazios para preencher, vou ver se preencho mesmo. De qualquer modo, estes nomes em algarismos romanos serão sempre meio inexatos.

terça-feira, dezembro 11, 2007

Simplificação de denominadores diferentes

Este é o terceiro texto da série sobre fórmulas de compasso com denominadores diferentes. Desta vez não descreverei o comportamento de um número específico. Tentarei mostrar como é possível "simplificar" as fórmulas de um determinado trecho a fim de que não seja necessário recorrer a uma fórmula "diferente" (tenho evitado a designação "irregular").

Tomemos como exemplo um trecho em que, ao lado de fórmulas com denominadores convencionais (4, 2 e 1, neste caso), aparece um compasso com a fórmula 5/6:



Sendo 6 o denominador é possível ajustarmos todas as outras fórmulas de modo que este 5/6 se transforme num simples 5/4. Isto porque a relação do número 6 com o número 4 é muito "próxima" (ainda que mais "distante" que a de seus múltiplos autênticos), bastando uma multiplicação ou divisão por 1,5 para se chegar de um ao outro.

Portanto, vemos que a relação entre 5/6 e 5/4 se obtém da mesma forma: multiplicação ou divisão por 1,5 - ou três meios (3/2). Multiplicam-se, então, todas as fórmulas por 3/2, num procedimento que nada mais é do que transformar os compassos simples em compostos. Obtém-se, então, a seguinte escrita:



A multiplicação por 3/2 produziu os seguintes resultados:

5/4 tornou-se 15/8
5/6 tornou-se 5/4
4/4 tornou-se 12/8
3/2 tornou-se 9/4
9/4 tornou-se 27/8
3/1 tornou-se 9/2

Clique aqui para ouvir o trecho.

Multiplicar uma fórmula significa torná-la mais complexa, mesmo que seja um pouco. É o preço de tentar transformar, por exemplo, um 5/6 em algo mais simples.

Poderíamos imaginar, então, o que aconteceria se introduzíssemos, nessa segunda notação do trecho acima, um 5/6. Teríamos então que multiplicar tudo por 3/2 outra vez, o que nos daria fórmulas ainda mais difíceis, embora legíveis e possíveis. Eis, então, um segundo trecho, semelhante à segunda versão do primeiro, mas ao qual se adicionou um 5/6.



Aplicado o mesmo procedimento que mostrei acima, temos o seguinte:



15/8 tornou-se 45/16
5/4 tornou-se 15/8
5/6 tornou-se 5/4
12/8 tornou-se 36/16
9/4 tornou-se 27/8
27/8 tornou-se 81/16
9/2 tornou-se 27/4

Além disto, vemos também que em vários compassos temos um "pulso" que vale nove semicolcheias, cuja notação mais simples talvez seja a que adotei aqui: uma mínima ligada a uma semicolcheia.

Clique aqui para ouvir o trecho.

sexta-feira, dezembro 07, 2007

Os tais dos momentos

É verdade, em Novembro eu ia escrever um post só para não ficar vazio e o mês não ficar ausente dos arquivos. Mas ficou. De uns anos para cá é comum em blogs que alguns meses fiquem fora dos arquivos. Então desta vez a seqüência é assim: Outubro de 2007 – Dezembro de 2007.

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Tinha até um assunto. Era o seguinte: pessoas que falam em “aproveitar o momento”, ou “viver o momento”. Perdoe-me se você é assim, mas gente que fala isso me dá um pouco de medo. Parece que de uma hora para outra a pessoa vai se entediar da minha presença e vai embora, porque já passou o tal do momento. Parece que a pessoa não se importa com nada – eu sei que não é assim, mas é a impressão que dá. Fica até parecendo que a pessoa nunca tem saudades nem tristeza de nada. De nada.

Argh, acho que perdi a prática de escrever, se é que já a tive, ou então estou ansioso demais para conseguir dizer o que estou tentando dizer.

Já aconteceu; eu falei alguma sobre a vida eterna, sobre tentar ser bom, e me responderam, como se não me houvessem escutado: “sim, o importante é viver o momento...”. Puxa vida.

Não, não, eu não discordo da idéia de que é bom e importante se concentrar. Já fui aconselhado: quando estiver penteando os cabelos, concentre-se em pentear os cabelos e apenas nisso; quando tocar, apenas toque etc. Sim, isso é muito bom. Mas estou falando de outra coisa: não consigo ter a frieza de ignorar coisas passadas, dizendo que foram “momentos” e que eu os aproveitei. Comigo tudo continua acontecendo para sempre.